Depois de nove anos sem lançar nenhum disco de inéditas, o Offspring lança nesta sexta-feira, 16, seu 10º álbum, Let The Bad Times Roll. Sim, é isso mesmo: o Offspring, aquela banda que fez sucesso nos anos 90 com seu punk rock enérgico e pop, continua viva - e quer mostrar que ainda tem relevância no cenário atual. Aos 55 anos, a voz de Dexter Holland já não é a mesma, mas isso não parece ser um problema, já que em 99,9% das novas músicas ele continua levando-a ao limite. Se, por um lado, a música do Offspring permanece rápida e certeira, por outro há uma mudança clara nas letras. Saem os temas satíricos para a entrada de questões mais sérias, como espiritualidade, resiliência e saúde mental.
Em entrevista a VEJA por videoconferência, o guitarrista Noodles falou sobre a mudança musical e descartou comemorações quando a banda completar 40 anos. Noodles brincou também ao dizer que músicos de rock e punk são mais inteligentes que os outros, e usou como prova o recente Ph.D. conquistado por Dexter em biologia molecular. “Agora ele faz parte do clube”, contou, citando Greg Graffin, do Bad Religion e Milo Aukerman, do The Descendents, roqueiros que também investiram na formação acadêmica. Confira a seguir os principais trechos da conversa:
Durante boa parte da carreira, vocês lançaram, em média, um novo disco a cada três anos. Por que Let The Bad Times Roll demorou nove anos para sair? Nos divertimos muito nos últimos anos. Em 2019, nós já tínhamos o álbum pronto, mas continuamos trabalhando nele porque sentimos que poderíamos melhorar. E então veio a pandemia. Achamos que o disco estava pronto, mas não fazia sentido lançar sem poder sair em turnê. Por isso, gastamos um pouco mais de tempo ajustando umas coisas aqui e ali e fazendo pequenas melhorias em trechos que nos incomodavam. Acho que ele ficou bem melhor do que era. A verdade é que ele não ficou pronto até ficar pronto.
O Offspring é conhecido por ser uma banda divertida. Este álbum, no entanto, tem letras mais pesadas. O que mudou? As faixas This Is Not Utopia, Let The Bad Times Roll, Behind Your Walls e Gone Away são músicas cujas letras fazem as pessoas se sentirem melhor. São músicas que tocam as pessoas. Não as classificaria como músicas divertidas. Nesse momento, as pessoas estão preocupadas com as doenças mentais, depressão e essas letras dão a elas alguma esperança e a sensação de que não estão sozinhas. Por outro lado, We Never Have Sex Anymore é absolutamente divertida. A verdade é que esse mundo está bagunçado.
Qual é a importância de falar de temas como esses nesse momento? Não sei se há tantas mensagens que queremos transmitir. Nossas músicas são mais sobre observação do mundo em que vivemos e sobre como ele tem sido bem sombrio. Estaríamos sendo desonestos se ignorássemos tudo isso. Precisamos conversar a respeito. Mas tudo tem seu lado alegre também. Queremos falar sobre como o mundo está bagunçado, mas também dar esperança. Você sabe, se usarmos as armas que temos, podemos lutar e superarmos isso. No final, o importante é mantermos nosso juízo e não deixar esse fardo ficar muito pesado. Há motivos para ter esperança.
Let The Bad Times Roll pode ser interpretado como uma música sobre a pandemia? A pandemia pode dar um entendimento mais claro para a música, mas ela fala sobre como os líderes mundiais querem dividir as pessoas e piorar as coisas, em vez de melhorar, porque isso os mantêm no poder. Então, o que ela diz é: deixe o tempo ruim passar. Se você puder mudar, mude. Se você não puder, bem, você pode deixar as coisas ruins passarem.
Por falar em líderes mundiais, como você enxerga daí dos Estados Unidos o governo brasileiro? Acho que o Brasil passa por algo muito semelhante ao que passamos. Bolsonaro e Trump são muito, muito parecidos. Não sei como elegemos esses líderes. Acho que tanto o Brasil quanto os Estados Unidos merecem mais que isso.
Recentemente, vocês fizeram uma versão do sucesso Come Out And Play alterando a letra para dizer às pessoas se vacinarem. Muita gente em seu país não quer se vacinar? Vemos os benefícios das pessoas sendo vacinadas. É o que a ciência nos diz também. Mas essa paródia não é nada política. Apenas estamos dizendo: “Vá se vacinar”. Muitas pessoas acham que vão inserir chips em seus cérebros ou algo do governo para ficar de olho nelas. É claro que isso é uma bobagem. Algumas pessoas podem ter boas razões para não serem vacinadas, mas espero que a maioria seja vacinada para impedirmos a propagação do vírus.
Você e o Dexter já estão juntos na mesma banda há quase quarenta anos. Vocês imaginavam que iriam continuar na estrada por tanto tempo? Nunca pensamos sobre isso. A verdade é que ainda nos divertimos. Quando estamos no estúdio, as coisas são um pouco obsessivo-compulsivas. Você realmente precisa se concentrar em juntar as coisas. Quase como num quebra-cabeças. E, então, saímos e tocamos. A interação com os fãs é imediata e nos alimentamos disso. Mas nunca pensamos nisso como um trabalho. Fazemos quase como um hobby. Algumas pessoas gostam de jogar golfe nos finais de semana. Nós gostamos de tocar punk rock em pequenos clubes. É assim que passamos nossas férias de verão. Não temos um plano para celebrar os quarenta anos. Tipo, é legal, mas nós não nos importamos.
O ano de 2020 foi difícil para todo o planeta. Ele foi especialmente difícil para as bandas? A pandemia foi horrível. Mas já estava ruim antes. A música está disponível quase de graça na internet e a única maneira que as bandas têm de continuar ganhando dinheiro é fazendo turnês. Agora, estamos incapazes disso também. Pior ainda é para a equipe de apoio, sabe? Os caras que fazem as coisas acontecerem. Eles estão sem trabalho e renda há mais de um ano. Está muito difícil para eles. O punk rock sempre foi um estilo musical que fala sobre as adversidades, aponta os dedos para ela, e depois protesta. Acho que todas as coisas que vimos nos últimos anos podem fazer surgir um novo tipo de punk rock.
Recentemente, Dexter obteve o título de Ph.D. Integrantes de bandas de punk rock são mais inteligentes? Sim! (risos). Quando ele finalmente obteve seu título, fizemos um show em Denver, com o Bad Religion. Dexter foi ao camarim dos caras e disse para o vocalista Greg Graffin, que também tem Ph.D.: “Posso entrar no clube agora? Seremos eu, você e o Milo Aukerman (da banda The Descendents)". Sempre achei o punk rock um estilo que se preocupa mais com as letras políticas, não só em cantar sobre garotas e carros. Lógico que existe uma galera mais bobona - tipo eu, que só quero saber de beber cerveja e tocar guitarra (risos).
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fonte:msn