Em seu primeiro compromisso oficial da viagem a Portugal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi recebido pelo chefe de Estado luso, Marcelo Rebelo de Sousa, na manhã deste sábado (22).

Após o encontro, o brasileiro afirmou que ambos os países são ameaçados pelo extremismo político. "Estamos ameaçados pelo fenômeno do extremismo, da violência política e do discurso de ódio, alimentado por notícias falsas. Elas destilam a desconfiança nas instituições e na política."

As declarações surgem no contexto em que o partido português de ultradireita Chega, liderado por um apoiador declarado de Jair Bolsonaro (PL), convocou manifestações nas ruas contra a presença de Lula em Portugal. Em sua fala, o presidente brasileiro comparou o comportamento da extrema direita ao fascismo.

"É quase como fazer política no submundo. Vocês acompanharam as últimas eleições no Brasil, viram o que aconteceu. Quando se começa a negar a política, o que vem depois é sempre muito pior. A extrema direita de direita ideológica não tem nada, tem muito de fascismo."

Marcelo Rebelo de Sousa, por sua vez, destacou a retomada dos laços entre os dois países, "reatando uma tradição de outros tempos", e destacou o papel dos brasileiros na sociedade portuguesa.

Antes de se reunirem no Palácio de Belém, sede da Presidência portuguesa, Lula foi recebido com honras militares. A cerimônia ocorreu em um dos principais cartões-postais da cidade, o Mosteiro dos Jerônimos. O presidente fez uma breve visita ao mosteiro e deixou flores no túmulo do poeta Luís de Camões.

Questionado sobre suas recentes declarações sobre a Guerra da Ucrânia, Lula voltou a pedir paz. Dessa vez em discurso mais moderado, disse que o Brasil condena a invasão russa da Ucrânia, mas reiterou que nem Kiev nem Moscou parecem querer parar o conflito.

"É melhor encontrar a saída em torno de uma mesa do que no campo de batalha", afirmou o petista. Perguntado se ainda sustenta que a União Europeia colabora para a manutenção do conflito, disse que "se você não fala em paz, você contribui para a guerra".

Lula também voltou a defender a reforma do Conselho de Segurança da ONU, para a inclusão de mais países como membros permanentes --"é preciso uma nova governança mundial; geografia de 1945 não é a mesma de hoje". E argumentou que a língua portuguesa deveria se tornar um dos idiomas oficias das Nações Unidas.

Apesar da ultradireita portuguesa ter convocado protestos contra a presença do petista, o clima era de tranquilidade nos arredores. Cerca de 50 manifestantes pró-Lula se posicionaram no entorno, muitos com cartazes de apoio ao presidente.

Lula estava acompanhado da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, dos oito ministros que compõem a delegação, além de embaixadores, militares e outros políticos.

Este é o terceiro encontro dos chefes de Estado em menos de seis meses. Em novembro, Lula já havia se reunido com o português em Belém durante sua passagem de 24 horas por Lisboa no retorno da conferência do clima da ONU, no Egito.

Em janeiro, Rebelo de Sousa esteve em Brasília para prestigiar a posse de Lula e aproveitou para convidar o brasileiro para realizar esta visita.

À tarde, o presidente brasileiro participa da retomada da Cúpula Luso-Brasileira. Prevista para acontecer a cada dois anos, a reunião de alto nível entre os governos dos dois países não era realizada desde 2016.

A programação inclui um encontro exclusivo de Lula com o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, e depois encontros mais alargados, com a presença de ministros portugueses e brasileiros.

Há previsão de assinatura de pelo menos 13 acordos, em áreas como ciência, inovação, direitos das pessoas com deficiência e aeronáutica.

A maior parte das atividades do dia está concentrada na região de Belém, em um raio de pouco mais de 1 km de distância. A segurança no bairro, um dos mais turísticos da capital, foi bastante reforçada.

Pouco após a chegada de Lula, policiais retiraram das proximidades da cerimônia dois jovens manifestantes que seguravam uma bandeira da Ucrânia e um cartaz que defendia a saída das tropas russas do país invadido. A justificativa para a remoção é que a dupla não havia feito a comunicação prévia obrigatória do protesto às autoridades policiais.

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