Passados 13 meses da maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, é revoltante constatar que o governador Eduardo Leite escolheu o caminho da autopromoção em vez da reconstrução. Na última semana, após dias severos de chuva no estado, voltamos a reviver o filme de terror do ano passado, com mais de 10 mil pessoas desabrigadas, 151 cidades atingidas, e, pelo menos, cinco mortos em decorrência das chuvas. Ao invés de governar, Eduardo Leite prefere protagonizar um show de marketing que beira o deboche com a dor das pessoas.
O governador, que sonha em ser presidente da República — gastou os últimos meses promovendo sua imagem pessoal, atacando o governo federal e investindo em uma peça publicitária digna de ficção: um filme em que se coloca como herói das enchentes, com trailer exibido nas salas de cinema do estado. O custo dessa vaidade? Meio milhão de reais do dinheiro público somente para promover o longa-metragem.
Enquanto isso, nas cidades, a realidade é outra. Com as chuvas recentes, comunidades voltaram a deixar suas casas, revivendo o horror daquele mês de maio de 2024. Sobre as obras estruturantes, como os diques de contenção às cheias, o governo do estado anunciou que os projetos só começarão a sair do papel a partir de 2027, com prazos de entrega para 2031. Isso, mesmo após o presidente Lula ter liberado R$ 6,5 bilhões ainda no fim do ano passado, exclusivamente para essas obras.
Esse montante bilionário segue parado, rendendo cerca de R$ 70 milhões por mês em um fundo, enquanto o povo segue vulnerável. Como a gente explica para a população que perdeu tudo e, no momento em que começa a se reestruturar, tem que sair de casa novamente? O governo do estado criou um fundo único para a gestão dos recursos da reconstrução — o Funrigs. Um ano e um mês depois, o que se vê é pouca transparência, execução pífia de obras e muitas dúvidas.
Eduardo Leite nunca passou por esse tipo de dificuldade, não sabe o que é ter que passar a noite em claro com medo de ter que sair de casa a qualquer momento por conta da enchente invadir os cômodos de onde mora. Recebo relatos de pessoas com severas crises de ansiedade, depressão, que desenvolveram pânico e hoje precisam gastar com remédios, tudo por conta do trauma de quem perdeu o que tinha na enchente.
Contraste entre Lula e Leite
Desde a tragédia, o governo Lula destinou mais de R$ 110 bilhões ao Rio Grande do Sul. Foi criado o auxílio-reconstrução de R$ 5100 para cada família atingida. Ao total, mais de 400 mil famílias receberam esse benefício. O presidente se comprometeu publicamente com uma nova casa para cada família que perdeu seu imóvel — e já são mais de 3000 contratos assinados. Já o que o governo estadual ofereceu? Casas temporárias, apertadas, indignas. Temos que lembrar que a dívida do Rio Grande do Sul foi suspensa por três anos, o que permite realocar recursos bilionários na reconstrução do estado. Mas nada disso faz Eduardo Leite trabalhar.
O contraste é gritante. A solidariedade do governo federal se transformou em políticas concretas. A lentidão do governo estadual se converteu em sofrimento prolongado. Leite e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, foram à Holanda recentemente buscar soluções contra as enchentes — mas quando a água sobe, a resposta prática segue sendo entulhar sacos de areia – os quais chamam de “bags”, para tentar bloquear a água.
Propor políticas ambientais sérias? Enfrentar as causas estruturais da crise climática? Nada. O que se vê é a manutenção de uma agenda neoliberal que desmonta o estado, destrói o meio ambiente, foca no lucro de poucos e negligencia a vida dos que mais precisam.
O governador do Rio Grande do Sul teve todas as chances para sair maior após a tragédia. Bastaria mostrar grandeza, trabalhar, conduzir a reconstrução do estado. Mas falou mais alto a obsessão de Eduardo Leite em fazer autopropaganda e acelerar seu ímpeto megalomaníaco de poder.
A tarefa de reconstruir o Rio Grande do Sul exige seriedade, planejamento e compromisso com o povo, exatamente o que o presidente Lula fez nos últimos 13 meses. O estado precisa de ação — não de um trailer publicitário. A natureza é implacável, mas parece que os políticos da direita negacionista não querem entender isso.